"O
governo militar havia proibido Joan Baez de apresentar-se no TUCA. O
argumento de fachada era que ela não tinha visto de trabalho no Brasil.
Mas a organização da festa "Bote Pra Fora", Quelita Moreno à frente, já
vinha
mantendo contatos telefônicos com a equipe de produção da cantora desde
o Chile (acho que era o Chile), e com isso amarrando as alternativas
para a canja no Largo. O problema estava no risco de incidentes
político-policiais bem típicos da nossa época. Joan dispensou a equipe
de segurança da gravadora (CBS? não estou bem certo); não queria nada
ostensivo. E aí fomos nós, mais movidos a álcool que pela coragem,
encarar tão nobre missão. A gravadora alertou: "se vocês (nós) não derem
conta da segurança, nosso pessoal na plateia entrará para retirá-la do
palco". Uau! Quanta emoção. Coube-me busca-la no antigo Hilton Hotel
(vidas e vidas, hoje meu gabinete de trabalho), no Fiat/147 da Quelita.
Mas o problema não era propriamente o aperto de 5 ou 6 pessoas nesse
carrinho. O perigo estava neste motorista - kkk. Bem dado este resumo,
32 anos passados, peço aos demais amigos que esclareçam algum equívoco
de minha parte" (Fermino Magnani Neto - FB, 14.10.2013).
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O dia em que Joan Baez tocou na São Francisco
Crônica publicada em 24.09.2009
Guilherme José Purvin de Figueiredo
Almocei ontem com meu amigo José Nuzzi, o pai do Rafael, no
lendário “Bar das Putas”, pejorativamente chamado por seus detratores de
“Sujinho”. Nuzzi veio na condição de procurador de uma dúzia de pagãos que me
acompanham há anos, e que estão enciumados com a chegada de Eddie, o Piano:
meus violões de 6 e 12 cordas, a guitarra elétrica e a portuguesa, o acordeon,
o bandolim, a viola capira, os teclados, as duas gaitas, o pandeiro, a
'mbira...
Para reparar minha falta de sensibilidade, quero me desculpar
com todos eles e começo por aquele que me acompanha há mais tempo: o violão de
12 cordas "Del Vecchio" que a Bia me deu em 1980. Com um timbre
característico do rock rural que eu tanto gostava na época de Sá, Rodrix &
Guarabyra ou de Crosby, Stills, Nash & Young, no momento ele está meio fora
de uso, já que uma das tarrachas espanou. E não é legal tocar violão de 11
cordas. Tem cicatrizes, como todo aquele que tem algo a contar para o mundo.
Até sofreu uma intervenção no Murilo, luthier da Rua Turiassu, por conta de um
rombo causado por um quadro que caiu de bico em cima dele.
O dia mais importante de sua vida foi quando subiu ao palco
instalado no histórico festival "Bota Pra Fora", organizado pelo
Maurides e pela Aquelita no pátio das Arcadas do Largo São Francisco. De tarde
ficou em minhas mãos, na esquecível apresentação do grupo "Velho Império
Sem Czar", formado pelo Caito (clarineta), Paulinho (teclado), Sérgio
(bateria) e Guilherme, com backing vocal do Paulerix, Guian, Ciça e Lela. Pra
criar coragem, consumi meia garrafa de conhaque antes de subir ao palco. O fato
de eu não ser propriamente um Raul Seixas decerto contribuiu para o fiasco.
Ocorre que, naquela noite, depois da apresentação do Arrigo
Barnabé, ele foi para as mãos de... Adivinhem quem? Joan Baez! Isso mesmo, no
Brasil, em plena ditadura militar, o Maurides e a Aquelita conseguiram trazer
Joan Baez para o Largo São Francisco. Ela havia sido proibida de se apresentar
em território brasileiro. Mas a São Francisco é território livre e ninguém ousaria
invadi-la. A cantora subiu ao palco naquela noite, de improviso, com as portas
da faculdade fechadas para que a polícia não colocasse botas e cascos em nosso
espaço. E perguntou se alguém tinha um violão. Pois eu tinha! E, assim, Joan
tocou “Blowing in the Wind” em meu violão, para uma minúscula platéia de 40 ou
50 alunos.
Com uma história como essa, meu velho 12 cordas não pode morrer
pagão. A partir de hoje vai se chamar Bob, em alusão a Dylan, o ilustre
parceiro de Joan, na verdade Robert Zimmerman. Bastante adequado, já que o
Eddie, seu irmão mais novo, é um piano Zimmerman. E convido o Nuzzi para ser
seu padrinho, já que também é fã de Joan Baez.
Nem todas as famílias reúnem irmãos igualmente famosos. Temos
Groucho, Harpo e Zippo, temos Henfil e Betinho, que por um bom tempo era apenas
o “o irmão do Henfil” que ainda não havia voltado, temos os Mutantes Arnaldo e
Serginho Dias Batista. Nuzzi sabe o quanto é importante dar carinho a todos os
filhos, principalmente quando um deles chama mais atenção do que um piano
diante de um violão. Afinal, ele é também pai da atriz Mariana Ximenes. O que
importa, e isso Rafael e Mariana já sabem, é fazer soar os nossos instrumentos
de um jeito bem bonito. Como Rubinstein no piano ou Segovia no violão.
PS: Não achava no Google nenhuma referência à apresentação de Joan Baez nas Arcadas. Este blog seria o primeiro a tornar público o episódio. Afinal, o que não está no Google, não pode ser real. Bem, acabo de tomar conhecimento da crônica E agora com vocês (2), do Prof. Zé Pedro Antunes, da Unesp, publicada na "Tribuna da Imprensa" (Araraquara), contando outra parte desta mesma história. Agora, pelo menos fico com a certeza de que não estou maluco sozinho.
Tive o prazer de cumprimentar a Joan Baez no palco, pois a antecedemos no Festival "Bote pra Fora" com o trio violonista "Res Derelicta", composto pelo Carlos Mahfuz, Dadau e por mim, Flávio Scavasin.
ResponderExcluirEu também estava lá. Você não está ficando maluco sozinho.
ResponderExcluirEu também estava lá. Você não está ficando maluco sozinho.
ResponderExcluirEsqueceu de mim nos backing vocals!
ResponderExcluirPrecisa citar que foi obra do centro acadêmico XI de Agosto, e o presidente, que topou e bancou a ideia, foi Mario Mennucci
ResponderExcluirEu também, vivi esse momento mágico. Hora certa, no local certo com a pessoa certa. Isso sim, foi uma Desobediência Civil, digna de receber tal nome!! <3
ResponderExcluirEstive lá...1981. Festival Bote pra Fora...outros tempos.
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