segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Repressão ao movimento estudantil - 19 de maio de 1977

(Foto divulgada por Fermino Magnani Netto)

Joan Baez na Sanfran - Junho de 1981

"O governo militar havia proibido Joan Baez de apresentar-se no TUCA. O argumento de fachada era que ela não tinha visto de trabalho no Brasil. Mas a organização da festa "Bote Pra Fora", Quelita Moreno à frente, já vinha mantendo contatos telefônicos com a equipe de produção da cantora desde o Chile (acho que era o Chile), e com isso amarrando as alternativas para a canja no Largo. O problema estava no risco de incidentes político-policiais bem típicos da nossa época. Joan dispensou a equipe de segurança da gravadora (CBS? não estou bem certo); não queria nada ostensivo. E aí fomos nós, mais movidos a álcool que pela coragem, encarar tão nobre missão. A gravadora alertou: "se vocês (nós) não derem conta da segurança, nosso pessoal na plateia entrará para retirá-la do palco". Uau! Quanta emoção. Coube-me busca-la no antigo Hilton Hotel (vidas e vidas, hoje meu gabinete de trabalho), no Fiat/147 da Quelita. Mas o problema não era propriamente o aperto de 5 ou 6 pessoas nesse carrinho. O perigo estava neste motorista - kkk. Bem dado este resumo, 32 anos passados, peço aos demais amigos que esclareçam algum equívoco de minha parte" (Fermino Magnani Neto - FB, 14.10.2013).




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 O dia em que Joan Baez tocou na São Francisco 

Crônica publicada em 24.09.2009
 Guilherme José Purvin de Figueiredo

Almocei ontem com meu amigo José Nuzzi, o pai do Rafael, no lendário “Bar das Putas”, pejorativamente chamado por seus detratores de “Sujinho”. Nuzzi veio na condição de procurador de uma dúzia de pagãos que me acompanham há anos, e que estão enciumados com a chegada de Eddie, o Piano: meus violões de 6 e 12 cordas, a guitarra elétrica e a portuguesa, o acordeon, o bandolim, a viola capira, os teclados, as duas gaitas, o pandeiro, a 'mbira...
Para reparar minha falta de sensibilidade, quero me desculpar com todos eles e começo por aquele que me acompanha há mais tempo: o violão de 12 cordas "Del Vecchio" que a Bia me deu em 1980. Com um timbre característico do rock rural que eu tanto gostava na época de Sá, Rodrix & Guarabyra ou de Crosby, Stills, Nash & Young, no momento ele está meio fora de uso, já que uma das tarrachas espanou. E não é legal tocar violão de 11 cordas. Tem cicatrizes, como todo aquele que tem algo a contar para o mundo. Até sofreu uma intervenção no Murilo, luthier da Rua Turiassu, por conta de um rombo causado por um quadro que caiu de bico em cima dele.
O dia mais importante de sua vida foi quando subiu ao palco instalado no histórico festival "Bota Pra Fora", organizado pelo Maurides e pela Aquelita no pátio das Arcadas do Largo São Francisco. De tarde ficou em minhas mãos, na esquecível apresentação do grupo "Velho Império Sem Czar", formado pelo Caito (clarineta), Paulinho (teclado), Sérgio (bateria) e Guilherme, com backing vocal do Paulerix, Guian, Ciça e Lela. Pra criar coragem, consumi meia garrafa de conhaque antes de subir ao palco. O fato de eu não ser propriamente um Raul Seixas decerto contribuiu para o fiasco.
Ocorre que, naquela noite, depois da apresentação do Arrigo Barnabé, ele foi para as mãos de... Adivinhem quem? Joan Baez! Isso mesmo, no Brasil, em plena ditadura militar, o Maurides e a Aquelita conseguiram trazer Joan Baez para o Largo São Francisco. Ela havia sido proibida de se apresentar em território brasileiro. Mas a São Francisco é território livre e ninguém ousaria invadi-la. A cantora subiu ao palco naquela noite, de improviso, com as portas da faculdade fechadas para que a polícia não colocasse botas e cascos em nosso espaço. E perguntou se alguém tinha um violão. Pois eu tinha! E, assim, Joan tocou “Blowing in the Wind” em meu violão, para uma minúscula platéia de 40 ou 50 alunos.
Com uma história como essa, meu velho 12 cordas não pode morrer pagão. A partir de hoje vai se chamar Bob, em alusão a Dylan, o ilustre parceiro de Joan, na verdade Robert Zimmerman. Bastante adequado, já que o Eddie, seu irmão mais novo, é um piano Zimmerman. E convido o Nuzzi para ser seu padrinho, já que também é fã de Joan Baez.
Nem todas as famílias reúnem irmãos igualmente famosos. Temos Groucho, Harpo e Zippo, temos Henfil e Betinho, que por um bom tempo era apenas o “o irmão do Henfil” que ainda não havia voltado, temos os Mutantes Arnaldo e Serginho Dias Batista. Nuzzi sabe o quanto é importante dar carinho a todos os filhos, principalmente quando um deles chama mais atenção do que um piano diante de um violão. Afinal, ele é também pai da atriz Mariana Ximenes. O que importa, e isso Rafael e Mariana já sabem, é fazer soar os nossos instrumentos de um jeito bem bonito. Como Rubinstein no piano ou Segovia no violão.


PS: Não achava no Google nenhuma referência à apresentação de Joan Baez nas Arcadas. Este blog seria o primeiro a tornar público o episódio. Afinal, o que não está no Google, não pode ser real. Bem, acabo de tomar conhecimento da crônica E agora com vocês (2), do Prof. Zé Pedro Antunes, da Unesp, publicada na "Tribuna da Imprensa" (Araraquara), contando outra parte desta mesma história. Agora, pelo menos fico com a certeza de que não estou maluco sozinho.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Madrugada do dia 18 de julho de 1968

"Madrugada do dia 18 de julho de 1968: o DOPS e a PM invadem o prédio da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e prendem 39 estudantes que o ocupavam.Até o dia anterior, centenas de estudantes participavam daquela ocupação, iniciada 25 dias antes, no dia 23 de junho. Mas, ante a iminência da invasão policial, uma assembleia realizada no dia 17 de julho deliberou que só um pequeno grupo deveria permanecer durante a próxima madrugada (a madrugada do dia 18 de julho), apenas para impedir que o CCC se adiantasse, invadisse a faculdade, depredasse suas instalações e jogasse a culpa nos estudantes que a ocupavam. Na foto do arquivo em anexo, os 39 estudantes presos descem, em fila indiana, a escada do primeiro andar para o andar térreo da faculdade, sob vigilância policial, para serem conduzidos ao DOPS". 
José Damião de Lima Trindade (foto enviada pelo autor do texto)